Nos últimos anos, o número de estudantes com deficiência nas universidades brasileiras quase dobrou. Mas será que o ensino superior está realmente preparado para acolher toda a diversidade de estudantes — incluindo aqueles com deficiências invisíveis, como o TDAH e o autismo?
A educação inclusiva vem ganhando força no debate público, impulsionada por políticas de acessibilidade, maior conscientização social e pela urgência de garantir oportunidades reais a todos. Ainda assim, os dados mais recentes mostram que a distância entre acesso, permanência e inclusão efetiva continua sendo um dos grandes desafios do ensino superior no Brasil.
Acesso cresce, mas a inclusão ainda é um desafio
De acordo com o Censo da Educação Superior de 2023, divulgado em novembro de 2024, o Brasil registrou 92.756 alunos com deficiência matriculados em cursos presenciais e a distância. O número representa um crescimento de 91% desde 2019, ritmo muito superior ao aumento geral de matrículas no mesmo período, que foi de 16%.
Mesmo com esse avanço, os estudantes com deficiência representam menos de 1% de todo o corpo discente das universidades brasileiras.
(Fontes: Diário PcD, 2024; Talento Incluir, 2024)
O aumento quantitativo é um passo importante, mas a verdadeira inclusão vai além da matrícula. Ela exige condições de acessibilidade pedagógica, tecnológica, atitudinal e emocional, que permitam não apenas ingressar, mas permanecer e concluir o curso em igualdade de oportunidades.
A barreira da permanência e da evasão
Em 2023, apenas 12.651 estudantes com deficiência concluíram o ensino superior, um número que escancara a lacuna entre acesso e permanência.
As taxas de evasão também seguem preocupantes: estudos apontam índices próximos de 27%, chegando a 31,5% em instituições privadas, reflexo de barreiras estruturais, pedagógicas e culturais que muitas vezes ultrapassam o aspecto acadêmico.
(Fontes: Diário PcD, 2024; Educa Mais Brasil, 2024)
Desigualdades que começam antes da universidade
Os obstáculos da inclusão no ensino superior são consequência de desigualdades acumuladas ao longo da trajetória escolar.
Segundo a Pnad Contínua 2022 do IBGE, apenas 7% das pessoas com deficiência no Brasil haviam concluído o ensino superior, contra 20,9% entre as pessoas sem deficiência.
Na educação básica, o contraste é ainda mais marcante: somente 25,2% das pessoas com deficiência concluíram o ensino médio, comparado a 53,4% da população sem deficiência.
Entre jovens de 18 a 24 anos, apenas 14,3% das pessoas com deficiência estavam cursando o ensino superior, enquanto o percentual entre pessoas sem deficiência era bem maior.
(Fontes: IBGE, 2024; Gov.br, 2025)
Esses dados mostram que a desigualdade educacional é estrutural — e o ensino superior é apenas o ponto de chegada de um sistema que ainda falha em garantir inclusão desde os primeiros anos de escolarização.
Infraestrutura e preparo institucional
A acessibilidade não se resume à presença de rampas ou elevadores.
O Painel de Indicadores da Educação Especial (2023), do Instituto Rodrigo Mendes, aponta que uma em cada quatro escolas brasileiras não possui nenhum recurso de acessibilidade física.
Esse cenário se reflete também nas universidades, onde ainda faltam recursos tecnológicos, formação docente adequada e políticas institucionais integradas.
Uma revisão de estudos publicada pela UFRJ reforça que as principais barreiras enfrentadas por estudantes com deficiência são urbanísticas, atitudinais e pedagógicas, agravadas pela ausência de integração entre departamentos e pela falta de capacitação de professores e gestores.
(Fontes: Instituto Rodrigo Mendes, 2023; Revista da UFRJ, 2022; SciELO Brasil, 2023)
Autismo, TDAH e a urgência de incluir as deficiências invisíveis
A inclusão universitária também precisa reconhecer e atender a uma parcela crescente de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) — condições muitas vezes invisíveis, mas que impactam diretamente a experiência acadêmica.
O Censo Demográfico 2022 identificou 2,4 milhões de brasileiros com diagnóstico de autismo, o equivalente a 1,2% da população. A prevalência é maior entre homens (1,5%) do que entre mulheres (0,9%), e a faixa etária com maior incidência é a de 5 a 9 anos, com 2,6% de diagnósticos.
(Fonte: Agência IBGE Notícias, 2024)
Na educação básica, o número de matrículas de estudantes com TEA cresceu 44,4% entre 2023 e 2024, passando de 636.202 para 918.877 alunos — um sinal claro de que mais crianças estão sendo diagnosticadas e terão continuidade no ensino superior nos próximos anos.
(Fonte: Ministério da Educação, 2025)
Já no caso do TDAH, estimativas da Conitec (Ministério da Saúde) indicam que cerca de 7,6% das crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos no Brasil apresentam o transtorno, e uma parcela significativa mantém sintomas na vida adulta. Estudos internacionais estimam que entre 5% e 12% dos universitários podem ter TDAH, o que reforça a importância de políticas institucionais específicas para acompanhamento, adaptações de prazos e apoio à organização acadêmica.
(Fonte: Conitec/MS, 2022)
Essas condições exigem abordagens pedagógicas personalizadas. Estudantes com TEA ou TDAH podem enfrentar dificuldades em ambientes com excesso de estímulos visuais e sonoros, tarefas muito longas, prazos rígidos e instruções pouco claras. Para que a inclusão seja real, as universidades precisam adotar protocolos de acolhimento e acompanhamento, garantindo que os alunos recebam o suporte necessário sem depender de autodeclarações repetitivas ou burocráticas.
O caminho para uma universidade verdadeiramente inclusiva
Os dados deixam claro: a inclusão não pode se limitar a abrir as portas da universidade.
Ela requer políticas institucionais consistentes, formação continuada de docentes e gestores, infraestrutura acessível e uma cultura de empatia e pertencimento que acolha a pluralidade humana em todas as suas formas.
A universidade do futuro será aquela que enxergar a acessibilidade e a neurodiversidade não como obrigações legais, mas como pilares estratégicos de inovação e equidade.
Mais do que cumprir leis, trata-se de construir comunidades de aprendizagem em que cada estudante — com ou sem deficiência, com ou sem diagnóstico — tenha as condições para desenvolver seu potencial e transformar o mundo.
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Fontes consultadas
- Diário PcD – Cresce número de alunos com deficiência no ensino superior (2024)
- Talento Incluir – Alunos com deficiência no ensino superior (2024)
- Educa Mais Brasil – O número de pessoas com deficiência no ensino superior ainda é baixo (2024)
- Revista Ensino Superior – Pessoas com deficiência e o acesso à universidade (2024)
- Gov.br – IBGE divulga dados sobre pessoas com deficiência (2025)
- Agência IBGE Notícias – Pessoas com deficiência têm menor acesso à educação (2024)
- Instituto Rodrigo Mendes – Painel de Indicadores da Educação Especial (2023)
- Revista da UFRJ – Revisão de literatura sobre barreiras à inclusão (2022)
- SciELO Brasil – Barreiras estruturais e pedagógicas no ensino superior (2023)
- Agência IBGE Notícias – Censo 2022 identifica 2,4 milhões de pessoas com autismo no Brasil (2024)
- Ministério da Educação – Crescem matrículas de alunos com TEA (2025)
- Conitec – Relatório do Protocolo Clínico de TDAH (2022)


